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Paisagem, mero artifício

exposição coletiva

MARP - Museu de Arte de Ribeirão Preto, 2025

curadoria

texto curatoria:

“Mal creríamos ser a paisagem mero artifício”

Anne Cauquelin

 

Paisagem não é sinônimo de natureza. Enquanto a natureza independe da presença humana para existir – nós que dependemos dela –, a paisagem só existe a partir da relação entre um espaço e alguém que o observa (ou o imagina). Nessa relação, há um ponto de vista, um enquadramento, um recorte e uma atribuição de significado. “É que a paisagem já está ligada a muitas emoções”, diz a filósofa francesa Anne Cauquelin. Não à toa, há uma longa tradição na história da arte dedicada ao gênero.

 

No ponto de encontro das pesquisas das artistas Aline Moreno e Corina Ishikura está a abordagem da paisagem em seus aspectos físicos e simbólicos. Ambas se apropriam e subvertem ferramentas e métodos de medição e controle do território: as imagens de satélite, os mapas, os dados censitários, uma câmera de filmagem dentro de um carro em movimento e algoritmos computacionais que geram topografias instantâneas. A abordagem mediada por máquinas ressalta a distância exacerbada entre o corpo e as paisagens: elas não são vivenciadas, mas são, antes de tudo, ideias – os pontos de vista são aéreos e os dados, impessoais. Ao material imagético e numérico coletado aplicam-se procedimentos como o recorte, a fragmentação, o embaralhamento e a espacialização. As artistas desterritorializam as paisagens de seus referentes geográficos, ressaltando seus aspectos genéricos. Elas habitam, antes, o nosso imaginário: são urbanizações padronizadas e idealizações de montanhas que poderiam estar em qualquer parte. Sem identidade, é mais fácil transformá-las em fonte de recursos a serem explorados. Nesse ponto, os trabalhos levantam uma reflexão sobre o próprio gesto de extrair – imagens, dados, matéria.

 

A escolha dos materiais, tanto para as pinturas quanto para as esculturas, dá-se de forma consciente: o tempo geológico da pedra e a viscosidade da tinta a óleo dialogam com os veios da matéria orgânica da madeira – que, de tão processada industrialmente, exige um exercício mental para lembrar que ela um dia já foi árvore. É nessa materialidade que as paisagens aparecem como signo, como símbolo e como índice de formas específicas de pensar, habitar, ocupar e explorar a Terra — uma especificidade extrativista que se tornou hegemônica com o avanço irrefreado daquilo que chamamos de progresso.

Curadoria

Marina Frúgoli

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Artistas

Aline Moreno​​

Corina Ishikura

Fotos

Ana Helena Lima

© Marina Frúgoli

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